A Evolução dos evolução dos EPIs
Trabalho
Desde os
primórdios dos tempos, o homem busca a proteção individual quase que
instintivamente. Os primeiros EPIs - Equipamentos de Proteção Individual foram
registrados já na época das cavernas, quando o homem primata utilizava
vestimentas de pele de animais para se proteger das intempéries do clima e
empunhava suas clavas contra animais da região hostil que habitava.
Na idade
média houve uma importante evolução, quando os cavaleiros medievais passaram a
se proteger das lanças do ataque inimigo por detrás das armaduras. Por sua vez,
os povos indígenas utilizavam roupas feitas de couros de animais e penas de
aves e empregavam arcos e flechas nos combates e caçadas.
A humanidade evoluiu. Vieram a Revolução Industrial, a Primeira e a Segunda
Guerra Mundial. As atividades artesanais cederam espaço às mineradoras,
metalúrgicas e fundições. Desde então, a evolução dos EPIs nunca mais parou.
Hoje, sua satisfação atinge um nível tal que julgamos não haver mais espaço
para novos progressos. Ledo engano. A cada dia, descobrem-se novos materiais,
parâmetros, tecnologias e metodologias que contribuem para sua evolução e
buscam tão somente proteger o bem mais valioso que temos: a vida.
Prevenção é prioridade
Segundo os principais especialistas da área de Segurança e Saúde Ocupacional,
as guerras mundiais contribuíram em muito para a evolução dos EPIs. Triste
constatação: como pode um evento que traz tanta dor e sofrimento para os povos
contribuir para a melhoria da segurança ocupacional e a preservação da vida humana?
"A guerra traz consigo a emergência em descobrir novos mecanismos que
sirvam não só para descobrir o inimigo, mas que, principalmente, prolonguem a
vida humana, uma vez que ela é a principal peça neste cenário", justifica
João Aprile, diretor da ABS - Agência Brasil de Segurança.
Além disso, as guerras e a industrialização aumentaram a conscientização do
homem quanto à importância de sua proteção individual. Isso levou o europeu,
principalmente a partir da Revolução Industrial, a dar mais prioridade para a
questão preventiva. A Europa e os Estados Unidos fizeram um balanço das perdas
das vidas humanas, tanto com as guerras, quanto com o trabalho industrial, e
constataram que o maior número de incapacitação ao trabalho ocorria no ambiente
laboral, o que levou à busca de medidas que abrandassem esse quadro.
A Inglaterra foi o berço da legislação trabalhista e lá surgiram os primeiros
movimentos visando a proteção ao trabalhador. Aquele país também exportou esse
conceito, assim como especialistas na área de Segurança Ocupacional para vários
países, inclusive para o Brasil, principalmente com o auxílio do Barão de Mauá,
para a construção da malha ferroviária nacional no tempo do Brasil-Império.
O processo de industrialização no Brasil começou lento e gradativo. Durante o
segundo reinado (1840-1889), o país ainda era essencialmente agrícola com
vistas à exportação, principalmente de produtos como café e a borracha. Até
então, as atividades industriais limitavam-se às tecelagens, serrarias, fiações
e fábricas de bebidas e conservas. Metalúrgicas e fundições eram raras.
A crise de 1929 sobre a agricultura cafeeira e as mudanças geradas pela
Revolução de 1930 alteraram os rumos da política econômica. Em 1931, Getúlio
Vargas anunciou a determinação de implantar uma "indústria de base",
que levaria o país a produzir insumos e equipamentos industriais e a reduzir
sua importação, estimulando a produção nacional de bens de consumo. As medidas
concretas para a industrialização, contudo, foram tomadas durante o Estado
Novo, em 1937.
As dificuldades ao comércio mundial causadas pela Segunda Guerra Mundial
favoreceram a estratégia de substituição de importações. Em 1943, foi fundada,
no Rio de Janeiro, a Fábrica Nacional de Motores. Em 1946, começou a operar o primeiro
auto-forno da CSN - Companhia Siderúrgica Nacional, em Volta Redonda (RJ). A
Petrobras, que até hoje detem o monopólio da pesquisa, extração e refino de
petróleo, foi criada em outubro de 1953. Em 1956, início dos anos JK (Governo
de Juscelino Kubitschek), consolidou-se a implantação de indústrias de bens
duráveis, sobretudo de eletrodomésticos e veículos. O Brasil entrava,
definitivamente, na era da industrialização.
Todas essas alterações provocaram profundas mudanças na vida do trabalhador. De
um lado, ele passou a se especializar em atividades que exigiam um maior
aprimoramento técnico. Por outro, passou a correr maiores riscos, estando
exposto a lesões e acidentes que colocavam em risco sua saúde e até mesmo sua
vida. Esse novo cenário despertou o governo, empregadores e empregados para a
necessidade de encarar a importância da prevenção de acidentes. Assim, o EPI
começou a ganhar destaque como principal aliado em prol da preservação da vida
do trabalhador e a evoluir notoriamente com o passar dos anos.
Diversificação de produtos
Luvas, calçados, óculos, aventais, protetores auditivos, máscaras
respiratórias, capacetes, roupas de proteção, visores, cremes para a proteção
da pele e cintos de segurança, entre outros equipamentos e produtos, são alguns
dos EPIs mais utilizados na indústria. A falta de uso dos mesmos traz
consequências sérias para a saúde do trabalhador.
Utilizá-los é a única forma de resistir a esses malefícios e prevenir possíveis
doenças ao longo dos anos.
Porém, sem conscientização e, principalmente, a disponibilização do EPI correto
para as atividades laborais, fica praticamente inviável a manuenção saudável do
trabalhador. "Está havendo uma mudança de mentalidade, tanto por parte do
empresário quanto do usuário, mas este é um trabalho que vem sendo feito há
várias gerações, tamanho o grau de sua complexidade", ressalva Aprile,
observando que a resistência ao uso existe, principalmente, em razão do
desconforto que o equipamento pode exercer. "Esse fator, aliado ao pouco
ou nenhum conhecimento, tem sido o principal agente contra a utilização dos
EPIs".
Por isso, a evolução em busca de tecnologias inovadoras, que promovem a
melhoria dos materiais, dando-lhes mais conforto, maleabilidade, design moderno
e eficácia, traduz-se no aumento de sua utilização e consequente queda dos
riscos e ocorrências de acidentes. "E demonstra, também, que o homem é o
ser mais adaptável que existe no planeta, pois nenhum animal sobreviveria a
certos tipos de exposição e nem suportaria executar algumas atividades. Porém,
ele se adapta e acaba se acostumando com a sua realidade no meio ambiente de
trabalho", analisa o diretor da ABS.
A utilização de EPIs começou a ser implantada no Brasil entre os anos 40 e 50,
sendo sua maior parte importada da Europa. De acordo com Aprile, além das
dificuldades com a importação, foi necessária uma grande adaptação dos
equipamentos ao trabalhador nacional. "Entretanto, registros históricos
mostram que, provavelmente, a segurança individual no Brasil começou a ser
implantada já com o vaqueiro nordestino que, para enfrentar os desafios do
sertão no Nordeste brasileiro, criou um traje composto por casaco de couro,
calças, botas, luvas de couro, que são presas com uma tira na manga do casaco,
e o chapéu de couro", conta.
A evolução do uso do EPI no Brasil também ocorreu em função do fato que, muitas
empresas multinacionais, ao instalarem suas filiais no país, trouxeram, além do
conhecimento, novas tecnologias e metodologias para utilização dos
equipamentos. Por exemplo, a Duráveis Equipamentos de Segurança Ltda., que atua
no mercado nacional há 49 anos, foi criada para atender às necessidades que o
desenvolvimento industrial impôs ao mercado. Antecipar as tendências e e
fornecer produtos em consonâncias com as normas nacionais e internacionais do
setor também são diferenciais de suma importância. A empresa atesta que uma
maneira de se manter atualizada com oque há de novidade no mercado em nível
mundial, possibilitando no mercado em nível mundial, possibilitando acompanhar
a evolução do setor, é participando de feiras e eventos internacionais.
A conscientização da necessidade do uso do EPI, tanto por parte dos
empresários, quanto dos trabalhadores, impulsionou a evolução destes
equipamentos. "Hoje, o trabalhador brasileiro frequenta as salas de aulas.
Ele está em busca de novidades e quer aprender, o que demonstra o quanto está
priorizando o seu papel no universo trabalhista. Por outro lado, o empresário
está se conscientizando de que o EPI não é só mais um gasto e, sim, um
investimento que impedirá que ocorram custos desnecessários com a ocorrência de
acidentes em sua empresa e, sobretudo, problemas com impacto social e
psicológico do acidente junto ao trabalhador. Estes fatores levaram o EPI a
ocupar o lugar de destaque principalmente a partir dos anos 90, década que foi
um marco importante para a história da Segurança Ocupacional no país",
explica Aprile.
Eficiência comprovada
O C.A. - Certificado de Aprovação dos EPIs é um documento importante no universo
da segurança do trabalho. Segundo o Artigo 167 da CLT - Consolidação das Leis
do Trabalho, o equipamento de proteção só poderá ser posto à venda ou utilizado
com a indicação do CA do Ministério do Trabalho. O órgão responsável pela
emissão do CA é o DSST - Departamento de Segurança e Saúde no Trabalho, da
Secretaria de Inspeção do Trabalho, do Ministério do Trabalho e Emprego, que
possui uma rede de laboratórios para a realização de ensaios em EPIs. A Divisão
de Equipamentos de Segurança da Fundacentro possui um destes laboratórios e
realiza testes em: luvas de borracha para eletricista, óculos de segurança,
protetor facial, máscara de solda, cinturão de segurança , capacete de
segurança, dispositivo trava queda, luva de proteção de tecido, luva de segurança
de elos de aço, capa, macacão, blusa e avental para proteção contra intempéries
e equipamentos de proteção respiratória.
Segundo José Damásio de Aquino, chefe da Divisão de Equipamentos de Segurança
da Fundacentro, a procura pelos testes aumentou a partir da década de 90 com a
abertura do mercado nacional e o surgimento de novos importadores de EPIs, que
precisavam analisar seus produtos para verificar se atendiam ou não às
especificações nacionais e, a partir disso, entrar com a solicitação do CA
junto ao DSST. "Em função desta demanda, não foi possível dispor de tempo
suficiente para dedicarmos à pesquisa de novos equipamentos e materiais. Essa
será uma das áreas que vamos ampliar e retomar futuramente", esclarece
ele.
No processo de análise de EPIs, a Fundacentro conta três tipos diferentes de
interessados: o fabricante/importador, os fiscais do MTE e os usuários.
Conforme Damásio, os fabricantes e os importadores encaminham os EPIs para
serem testados na entidade, a qual emite um relatório com os resultados. O
fabricante/importador anexa o relatório aos demais documentos estipulados na
Norma Regulamentadora n° 6 e solicita ao DSST a emissão do CA.
Durante o período de validade do CA, a fiscalização, através dos Auditores
Fiscais do Trabalho, do MTE, a qualquer momento, pode apreender amostras dos
EPIs para novos testes, visando conferir se os equipamentos continuam mantendo
as mesmas qualidades e características apresentadas quando da emissão do CA.
"A partir da apreensão do EPI abre-se um processo no DSST que pode levar à
cassação do CA", alerta ele.
Já o terceiro interessado é representado pelos usuários, ou seja, as empresas
que adquirem o EPIs e têm dúvidas quanto à qualidade dos mesmos ou adotam um
programa de controle de EPI e, portanto, fazem a avaliação periódica deles.
"Dentro desse grupo de usuários encontram-se, também, os sindicatos que
podem fazer essas solicitações. Agora, com a revisão da NR6 e a inclusão da
possibilidade de avaliação dos EPIs no âmbito do SBC - Sistema Brasileiro de
Certificação, coordenado pelo membro Inmetro, outros laboratórios poderão fazer
parte do processo de avaliação dos EPIs, o que, além de desafogar a entidade,
tornará o mercado mais dinâmico", ressalta Damásio.
Conforto e Proteção
O grande desafio do profissional da área de Segurança Ocupacional não é só
fazer com que o trabalhador utilize o EPI, mas, também, que encontre um
equipamento que tenha um maior grau de proteção e que menos o incomode. É a
partir daí, conforme Aprile, da ABS, que começam as pesquisas, o trabalho
conjunto dos técnicos e fabricantes e a própria participação dos trabalhadores,
de modo a ser encontrada uma solução que satisfaça a todos. "Muitas
empresas possuem equipes técnicas, independentemente dos vendedores, que dão suporte
aos clientes visando a melhoria de seus produtos e o aumento do grau de
proteção ao trabalhador".
O diretor da ABS conta que, durante seus anos como técnico de segurança, muitas
vezes apelou para o suporte do fabricante. "Um fato interessante aconteceu
na Divisão Farmacêutica de uma empresa onde trabalhavam muitas mulheres. Elas
reclamavam que os calçados de segurança eram muito pesados e causavam cansaço
nas pernas. Ao explicar o problema ao fabricante, ele sugeriu um modelo de
tênis de segurança com biqueira de PVC de alto impacto que, além de diminuir o
peso, proporcionou um designer mais harmonioso para os pés femininos,
garantindo o mesmo grau de proteção para as funcionárias", relata.
Conforme Aprile, a área médica auxilia bastante quando a questão é melhoria dos
EPIs. "Em 1985 implantamos o uso do protetor auditivo numa empresa e houve
muita resistência por parte dos trabalhadores. Pedimos para um enfermeiro do
trabalho dar uma palestra sobre os benefícios do uso do protetor auditivo, bem
como explicar a forma correta de utilização dos diversos tipos. Na época, o
tipo plug estava começando a ser utilizado pelas empresas e ainda existiam
muitas dúvidas quanto a sua eficácia. Com isso, os usuários passaram a entender
melhor seu funcionamento e passaram a usá-lo sem maiores problemas",
conta.
A necessidade foi, também, uma das principais alavancas para a evolução dos
EPIs. Imagine só um soldador que utiliza toda uma parafernália para
se proteger - roupas, máscara e um protetor auditivo tipo concha - e ainda tem
a influência do ambiente e das altas temperaturas a que é exposto. A evolução
levou ao desenvolvimento de peças mais leves e acopladas, que facilitaram a
utilização e deixaram o profissional mais à vontade para trabalhar.
Há, ainda, a questão da posição que o trabalhador acupa no posto de trabalho.
Segundo Aprile, da ABS, no caso dos torneiros mecânicos é preciso o uso de um
avental, mas não pode-se usar luva, pois a mesma pode ficar presa na máquina.
Ele precisa, também, de um óculos confortável, que proteja seus olhos dos
cavacos que saem das máquinas, e para completar a proteção, é necessária a
utilização de um boné, que vai evitar que os cavacos passem por cima dos óculos
e atinjam seu rosto quando o óculos escorrega por causa do suor. "A
utilização do boné é uma amostra da evolução, pois não era assim antigamente.
De repente alguém detectou o problema dos cavacos, achou a solução e
transmitiu-a para todos os demais", diz, o que atesta que a troca de
informações também é imprescindível para a evolução do setor.
"Certa vez, um fornecedor me contou que, além da luva de raspa, produzida
com couro bovina, ele fabricava luvas de couro de tubarão com exclusividade
para uma indústria. A indústria comprava este tipo de luva por apresentar uma
vantagem muito grande com relação à luva de couro bovino, já que as fibras do
couro de tubarão, ao contrário das de couro bovino, são trançadas, o que
confere maior poder de resistência às luvas", comenta Aprile. E ele também
informa que a participação do trabalhador também conta para a evolução e o uso
correto do EPI. "É ele o principal envolvido e quem deve lutar para ter a
sua saúde assegurada. Portanto, quanto mais participativo, melhor para a
evolução do EPI", avalia.
Segundo Denise Grün, gerene regional de negócios da Divisão Tyvec® Roupas de
Proteção, da Du Pont do Brasil S.A., o ideal é garantir proteção proporcionando
conforto. "A evolução está caminhando para isso. Prova disso é a
flexibilidade que os tecidos apresentam hoje em dia, como é o caso do Tyvec®,
um não-tecido bastante maleável, o que lhe confere uma característica de
confortabilidade", diz.
Ela acrescenta que a conscientização também é importante. "Até quatro anos
atrás, o conceito de proteção da pele praticamente não existia. Hoje, a
proteção atua como um todo, pois não há condições de proteger somente o
aparelho respiratório e deixar de lado a pele, que consiste numa grande via de
contaminação", ressalta.
Casos de dermatites ocupacionais comprovam esse fato. Nesse contexto, não só a
utilização de vestimentas apropriadas, mas também o uso de cremes de proteção
para pela têm uma atuação considerável, incluídos na NR 6 como EPI. Dessa
forma, o creme para as mãos representa um item a mais a favor do
trabalhador", confirma Maurício João Mazzulli, supervisor de vendas da
Pomp Produtos Hospitalares e de Segurança do Trabalho Ltda.
Os cremes surgiram na Segunda Guerra Mundial. Segundo Mazzulli, a indústria
bélica era muito ativa e no piso de fábrica o trabalhador esta prejudicando-se
por causa dos óleos e graxas utilizados nas máquinas, os quais causavam
irritação na pele e provocavam dermatites. Com isso, ocorria a diminuição da
produção, já que o trabalhador tinha que se afastar do local de trabalho, o que
fez surgir a necessidade de desenvolver um produto que o protegesse dos agentes
nocivos destes produtos.
O primeiro creme foi elaborado à base de óleo de baleia e, com o passar do
tempo, aconteceram as evoluções das fórmulas, que já foram à base de parafina e
silicone e, atualmente, são à base de resinas.
"No Brasil, a utilização dos cremes começou na década de 70", relata
Mazzulli, da Pomp, explicando que, apesar de ser um EPI, o creme não substitui
a luva e, sim, é utilizado como uma proteção adicional. No entanto, pode ser
utilizado sozinho em casos especiais, nos quais não há possibilidade de
utilizar a luva, como em equipamentos rotativos, ou para micromanipulação de
peças, que deixam o usuário exposto a agentes agressores.
Além disso, eles podem ser utilizados em conjunto, como, por exemplo, em
tarefas em que o funcionário precise usar a luva para evitar que o suor das
mãos manchem as peças, e ao mesmo tempo, necessite proteger-se dos óleos e
graxas que possam, transpassar a luva e atingir a pele. "Uma vez aplicado na
superfície da pele, o creme forma um filme de proteção química contra a
penetração de substâncias agressivas, evitando a contaminação ou efeitos
nocivos", explica Mazzulli.
Segundo ele, o objetivo básico do primeiro creme de proteção era impedir a penetração
dos óleos e solventes. "Depois surgiram os água resistentes que, além de
resistirem aos agentes químicos, não solubilizavam em contato com a água.
Finalmente, o grupo de cremes especiais para a linha de pintura, para
substências ácidas, ou em alguns casos, incorporam o conceito 3 em 1, ou seja,
três famílias de cremes em um só produto, água, óleo resistente e
pintura", diz.
Hoje o mercado tem a sua disposição uma gama variada de cremes. Para o
supervisor da Pomp, além da evolução da formulação dos cremes, o grande
diferencial é o atendimento ao cliente e a assistência técnica. "Essa
também é uma consequência da evolução, pois o apoio técnico é muito importante
para ajudar o fabricante a atender efetivamente as necessidades do usuário e,
assim, possibilitar a evolução de seu produto", pondera.
Exigência X garantia de proteção
Para Damásio, da Fundacentro, é a partir da cobrança dos usuários que os EPIs
vão melhorar a qualidade em termos de conforto e desempenho e o que levará o
fabricante a melhoria contínua. "Ao ter seu EPI reprovado num teste, o
fabricante vai promover a alteração deste material e fazer novas amostras. Com
isso surgirão novas tecnologias e soluções", comenta ele, informando que,
até 1992, o mercado nacional era fechado e a gama de EPIs nacionais era muito
pequena. Com a abertura do mercado, vieram novos equipamentos, gerando, também,
a necessidade de criação de normas específicas que são elaboradas, no caso do
Brasil, pelo Comitê Brasileiro 32, da ABNT - Associação Brasileira de Normas
Técnicas. "Quem participa das comissões que elaboram essas normas são
representantes de fabricantes, de usuários e de laboratórios, entre outros. As
normas, que geralmente são elaboradas a partir de textos estrangeiros, devem
conter especificações que atendam, no mínimo, à legislação e a realidade
brasileira", explica ele.
De acordo com Jaime Cyrulnik, diretor técnico da SP Equipamentos de Proteção ao
Trabalho Ltda, empresa que está há 27 anos no mercado, a globalização
contribuiu sumariamente para a evolução dos EPIs. "Os fabricantes buscaram
novas parcerias e, ao associarem-se com empresas estrangeiras, influenciaram na
evolução. No nosso caso, tivemos um desenvolvimento muito amplo acerca da área
de proteção contra quedas e no que se refere à fabricação de roupas para
bombeiros e seus componentes, como luvas, capacetes e botas, incluindo, também,
as vestimentas que são utilizadas por baixo da roupa. Antigamente, esses
produtos eram importados e, hoje, já fabricamos tudo aqui no Brasil",
destaca.
A evolução do setor de proteção contra quedas resultou em transformações como a
do cinto de couro, que surgiu a partor dos modelos de arreios de couro usados
nos animais e passou a ser fabricado com tecido sintético. E hoje é estruturado
seguindo o mesmo estilo dos cintos utilizados pelos pára-quedistas.
"Os cintos antigos eram presos na cintura, e numa queda o trabalhador
podia sofrer uma fratura. Já o cinto do tipo pára-quedista prende toda a parte
do tronco humano, fazendo com que o corpo caia reto e não sofra possíveis
deformações", salienta Cyrulnik, da SP Equipamentos.
O setor de proteção contra quedas exerce um papel relevante no universo
prevencionista, já que a possibilidade de riscos de quedas existe em todas as
áreas onde há atividades em que o trabalhador precise ficar suspenso, o que não
ocorre somente em atividades executadas nas alturas, mas também, em subsolos e
espaços confinados.
De acordo com o engenheiro F Gulin, diretor da Equipamentos Gulin, a evolução
desse setor começou a ganhar dimensão no Brasil há cerca de 30 anos,
principalmente depois dos incêndios que ocorreram nos prédios Andraus e Joelma,
em São Paulo. A elaboração dos equipamentos de movimentação vertical sofreu, na
ocasião, influência dos produtos que já existiam no exterior, como foi o caso
dos escapes de emergência utilizados pelo Corpo de Bombeiros nos salvamentos
das vítimas de incêndio. "Foram feitas inúmeras adaptações à realidade
nacional e criaram-se diversos equipamentos de proteção contra quedas que, até
hoje, são usados na construção civil, espaços confinados e plataformas
petroquímicas", comenta ele.
Na década de 60, conforme ele, só existiam os pesados trava-quedas com cabos
retráteis para a proteção dos trabalhadores no deslocamento vertical com risco
de queda. "Na década de 70 introduzimos, no Brasil, os pequenos e leves
trava-quedas para movimentação em cabo fixo de aço ou corda sintética. O
sucesso dos novos trava-quedas foi tão grande que, em 1979, o Ministério do
Trabalho determinou seu uso em todos os andaimes e cadeiras suspensas",
conta Gulin.
Atualmente, a sofisticação da linha de equipamentos de proteção contra quedas
chegou a tal ponto que surgiram os trava-quedas inteligentes que acompanham a
movimentação vertical dos trabalhadores, inclusive em curvas laterais ou
frontais, situação comum em indústria petroquímica.
As cadeiras suspensas também evoluiram e já utilizam o conceito de trava queda
integrado, ou seja, caso rompe ou solte o seu cabo de sustentação, o
trabalhador continuará sentado em uma posição confortável, à espera de resgate.
"Para trabalho em estruturas especiais, finalmente surgiu o prático
sistema de linhas horizontais de segurança (Linas de Vida), que são instaladas
em apenas 10 minutos e dão total segurança nesse tipo de atividade onde, até
então, só havia proteção com a perigosa ancoragem crítica", salienta o
engenheiro Gulin. E completa, "a evolução desse seguimento é constante e
sempre surgirão novas maneiras de melhorar o ambiente de trabalho", destaca.
Qualidade internacional
Em geral, a evolução deste mercado também recebe influência do controle que o
ministério do trabalho exerce sobre o uso dos EPIs.
Para Cyrulnik, da SP Equipamentos, a fiscalização é uma grande ferramenta para
impulsionar a evolução, pois leva as empresas a testarem novos materiais com o
intuito de adequarem-se às normas e produzirem EPIs cada vez mais sofisticados
e que supram as necessidades prevencionistas. Ele cita o exemplo das fibras
para a fabricação de roupas de proteção e outros acessórios. "Hoje existem
fibras sintéticas, como Kevlar®, o Nomex® e o Tyvek®, que levam o Brasil a
produzir EPIs no mesmo nível de qualidade que os importados", salienta.
Em se tratando de não-tecidos, a DuPont do Brasil, empresa que trabalha com materiais
destinados à proteção da Pele contra agentes químicos, é referência no mercado
nacional. Denise comenta que, antigamente, nos Estados Unidos, eram utilizadas
roupas produzidas a base de PVC, butil e Neoprene e, naquele tempo, não
existiam testes que comprovassem a eficácia da roupa. "As análises eram
meio empíricas. Para proteger-se da ação de um produto muito tóxico, o
profissional buscava utilizar uma roupa que fosse o mais grossa possível, sem
no entanto ter certeza de que ela funcionaria realmente.
"O desenvolvimento de alguns órgãos especiais, como a EPA - Environmental
Protection Agency e a OSHA - Occupational Safety and Health Act, nos EUA,
permitiu buscar métodos de análise que culminaram no desenvolvimento de alguns
testes para comprovação da eficácia ou não de roupas para proteção
química", informa a gerente regional da DuPont do Brasil.
Conforme Denise, um dos testes mais enfático desenvolvido em relação à eficácia
do tecido é o de permeação, que acabou com as dúvidas sobre como a pessoa
poderia se contaminar, ao longo do tempo de exposição, sem que houvesse a
penetração do líquido. "Esta era a visão macro do problema. Com os testes
foram levantadas informações de que os agentes químicos têm a propriedade de
efetuar a permeação através do tecido, ou seja, as moléculas interagem com o
tecido e passam para o outro lado em nível molecular, sem que o usuário
perceba, fazendo com que a contaminação adentre a pele e atinja a parte
sistêmica, provocando doenças como o câncer", explica ela.
A gerente regional da DuPont do Brasil destaca que este teste foi realizado,
pela primeira vez, há cerca de 20 anos e constitui um grande marco na área de
não-tecidos, levando as empresas a desenvolvimento novos materiais.
Denise destaca o pioneirismo da DuPont ao implementar alternativas de materiais
como Tyvek® e o Tychem, os quais garantem a absoluta proteção do usuário mesmo
quando expostos a produtos extremamente tóxicos. "Hoje, o Tyvek® não é
mais um material, e sim, uma forte marca que atua como um guarda-chuva onde,
abaixo dele, estão todos os produtos oferecidos pela DuPont ao mercado, como a
linha tychem, para produtos líquidos e gasosos, e a kapler, também para
produtos químicos", complementa ela.
Outra novidade é que a empresa não trabalha mais como fornecedora de
matéria-prima e, sim, só com produtos acabados. "Como a base da DuPont é
extremamente voltada para a segurança do trabalhador, a empresa resolveu ser
responsável pela roupa completa, garantindo, assim, sua efetiva segurança, uma
vez que a vestimenta envolve outros detalhes, como a costura do tecido. Além
disso, somos usuários de nossos próprios produtos, o que aumenta ainda mais
nossa responsabilidade quanto à eficácia do EPI", salienta Denise.
Além disso, a Dupont criou a fibra Aramida Kevlar®, uma fibra de baixo peso com
excelente resistência mecânica que, além de ser utilizada na aplicação de
blindagem de automóveis e no setor de telecomunicações, entre outros, também é
usada para a fabricação de EPIs.
Conforme Leilane Silva, líder de segmento Kevlar®, da DuPont, além da
resistência térmica e durabilidade, o Kevlar® proporciona excelente resistência
a cortes, sendo ideal para a confecção de EPIs, tais como: luvas e punhos de
proteção, aventais, mangotes e perneiras utilizadas em indústrias
automobilísticas, de vidro, aço, siderúrgicas, entre outras.
Na maioria dos processos industriais, os trabalhadores necessitam de proteção
confiável contra cortes, abrasão e calor e as mãos são particularmente
vulneráveis. Conforme ela, a substituição pela fibra Kevlar® proporcionou um
alto nível de proteção combinada contra o calor e o corte, superiores às luvas
similares de algodão e couro. "Dependendo de sua construção, as luvas de
Kevlar® podem proporcionar seis ou sete vezes mais proteção contra cortes
quando comparadas às luvas industriais de couro e de 2 a 3 vezes mais que as de
algodão. Já em relação ao calor, podem suportar temperaturas de até 250°C, em
trabalhos contínuos e até 700°C, em pequenos períodos. Além disso, elas não
encolhem quando expostas a altas temperaturas", informa Leilane.
De acordo com Cesar Augusto de Souza, supervidor de vendas da Seiki Indústria e
Comércio de Confecções Ltda., no campo das luvas de proteção, o design
efetivamente não sofreu alterações. A evolução ocorreu em torno da tecnologia
do fio utilizado para a sua confecção. "Ultimamente, é o Kevlar® o fio que
está se destacando pela sua alta tecnologia e seus benefícios", ressalta.
Personalização
Muitas vezes, os EPIs precisam suprir algumas necessidades específicas do
usuário. E este fator também promoveu algumas mudanças no setor de luvas.
"Diante da necessidade do emrcado, com o tempo foram criadas luvas para
atividades específicas, como, por exemplo, para uso em frigoríficos -
fabricadas com fio de aço que protege contra risco de corte. O departamento de
desenvolvimento de produto é muito importante, já que os clientes compram
soluções e com uma equipe de vendedores técnicos, assistente de vendas,
supervisores e gerente, conseguimos suprir todas as necessidades do
mercado", comenta Souza, da Seiki.
A personalização dos EPIs também vale para outros setores. É o caso de
trabalhadores que usam lentes corretivas e precisam de óculos de proteção com
grau e que necessitam de calçados ortopédicos ou com palmilhas ant-stress.
"A empresa tem que estar atenta a esses detalhes. Ao fornecer o EPI, ela
deve ter uma ficha de controle pessoal para cada trabalhador - que serve,
também, como um termo de responsabilidade - na qual estão anotadas todas as suas
peculiaridades e que deve ser assinada por ele toda vez que receber um EPI novo
e adequado às suas funções. Além disso, o EPI tem um tempo de vida útil que
deve ser obedecido e devidamente descartado quando vence", salienta
Aprile, da ABS.
Para Denise, da DuPont, a especificidade ajuda a atender a uma necessidade do
cliente. "Como trabalhamos com uma gama
completa de materiais em nível de proteção, temos condições de desenvolver
vestimentas especiais que atendam a essas necessidades. Adaptamos nosso
material a uma modelagem específica, fazemos uma análise conjunta com o cliente
e chegamos ao que ele precisa para sua atividade", exp´lica Denise,
observando que não existem testes obrigatórios para obtenção do certificado de
aprovação para roupas de proteção no Brasil: o fabricante assina um termo de
responsabilidade atestando que a roupa é eficiente para usos específicos e está
apta para uso. "Estamos atuando junto ao Ministério do Trabalho para
conseguirmos desenvolver esses testes aqui também", informa.
Já Souza, da Seiki, complementa que a qualidade da matéria-prima utilizada na
confecção do EPI é primordial para garantir o custo-benefício do cliente e
zelar pelo bem estar do usuário. "As luvas têm que oferecer perfeita
aderência, flexibilidade e segurança. Somente assim proporcionarão maior
eficiência no trabalho, pois conservarão o tato e a mobilidade das mãos",
exemplifica ele.
Contudo, para Aprile, da ABS, o avanço tecnológico nunca será o suficiente para
suprir a necessidade de proteção do homem. "Por mais que as empresas
invistam em pesquisas, sempre acontecerão fatos novos nos laboratórios, que
trarão à luz novas técnicas para a formulação de EPIs cada vez mais eficientes
e arrojados. É uma evolução contínua", aponta.
Proteção respiratória
A evolução dos equipamentos de proteção respiratória merece um capítulo à parte
na história global da Segurança Ocupacional. Seus antecedentes registram que o
reconhecimento da necessidade de proteger as vias respiratórias dos
trabalhadores é um fato muito antigo.
Plínio (23 - 79 A.C.) menciona o uso de bexiga animal como cobertura das vias
respiratórias sem vedação facial para proteção contra inalação de óxido de
chumbo nos trabalhos dentro das minas. Leonardo da Vinci (1452 - 1519)=,
antecipando alguns séculos da história, recomendou o uso de um pano molhado
contra agentes químicos, caso ocorrece alguma querra química. No período em que
a Europa foi atingida pela peste negra, por volta de 1656, foi inventada uma
espécie de máscara parecida com um bico de papagaio, onde eram colocadas ervas
aromáticas, cujo odor espantava os mosquitos que transmitiam a doença. Bernardo
Ramazzini (1633 - 1714) apresenta uma visão crítica sobre a inadequada proteção
respiratória dos minieiros de seu tempo que trabalhavam com arsênico, gesso e
calcário, de trabalhadores que manipulavam tabaco e cereais em grãos e de
cortadores de pedra.
Em 1700, no início da revolução industrial, apareceu a primeira descrição do
ancestral da máscara autônoma de circuito aberto e fechado e da máscara de ar
natural. Durante sua fase mais intensa, entre 1800 - 1850, começou-se a fazer
diferença entre os contaminantes particulados e gasoso, anteriormente
reconhecidos como "poeiras".
Segundo João Antônio Munhoz, do Departamento Técnico da Air Safety Indústria e
Comércio Ltda., o desenvolvimento da proteção respiratória está muito ligado à
atividade de mineração, principalmente aos trabalhos nas minas de carvão. É
que, no fundo das minas surge, devido à decomposição de matéria orgânica, o gás
metano, que é esfixiante e, em combinação com o ar atmosférico, forma o temido
"grisu", um composto altamente explosivo. Em minas de carvão também é
frequente a presença de enxofre, que forma o gás sulfídrico, altamente tóxico e
mortal em altas concentrações. A falta de oxigênio causado pela distância que
as galerias seguem a partir da entrada também representa um sério problema para
os operários que atuam no interior das minas.
Com a evolução técnica do proteção respiratória, o EPI passou a ser adotado em
ambientes fabris onde ocorriam escapes de gases. "As fábricas, que antes
processavam materiais naturais e geravam poucos gases e partículas geralmente
grossas e de pouco risco na inalação, passaram a processar substâncias cada vez
mais complexas, que geravam gases venenosos e partículas muito mais finas e
tóxicas do que as normalmente encontradas na natureza", observa Munhoz, da
Air Safety.
Conforme ele, mesmo no início do século XX ainda havia pouca preocupação social
com o trabalhador, e um grande número de pessoas adoecia após anos de trabalho,
muitas vezes, doenças desconhecidas que raramente eram atribuídas ao ambiente
em que trabalhavam.
"Os avanços mais rápidos ocorreram durante a I Gerra Mundial, com as
máscaras de uso militar. Os alemães geravam aerossóis altamente tóxicos no
campo de batalha, forçando o desenvolvimento de filtros altamente eficientes
contra particulados. Um desses filtros, desenvolvido em 1930, usava lã animal
impregnada de resina, cuja eficiência atingia cerca de 99,99%. Atualmente, os
filtros contra aerossóis utilizam fibras mais baratas e acessíveis, com baixa
resistência à respiração e com boas propriedades contra o entupimento
superficial. Também começaram a surgir os cilindros de aço mais leves, que
resistiam a maiores pressões e poderiam armazenar, assim, uma quantidade maior
de ar respirável comprimido. Além de serem carregados nas costas. Apesar de
apresentarem problemas com válvulas e registros, já eram equipamentos que
podiam ser usados pelos bombeiros e equipes de salvamento com maior grau de
confiabilidade", conta Munhoz, da Air Safety.
A Segunda Guerra Mundial trouxe novas técnicas e novos materiais. Muitas
doenças já eram diagnosticadas como decorrentes do trabalho em ambientes
contaminados, e algumas medidas de saneamento e precaução passaram a ser
adotadas. "Do pós-guerra até os dias de hoje, a indústria desenvolveu uma
enorme variedade de materiais que trouxe problemas ambientais, possibilitou o
desenvolvimento de doenças e determinação de suas origens, mas que também
impulsionou as técnicas e equipamentos para avaliação de ambientes e promoveu o
desenvolvimento dos EPIs mais sofisticados e eficazes", declara Munhoz.
No Brasil, equipamentos para proteção respiratória vêm sendo utilizados há
muitos anos. Segundo o representante da Air Safety, antigamente eram bastantes
simples, porém com o tempo foram surgindo equipamentos mais modernos, e a
indústria nacional também passou a se preocupar mais com a qualidade,
eficiência e conforto dos equipamentos que produzia.
As máscaras contra gases, também conhecidas como respiradores, constituem-se
como importantes componentes da segurança em atividades do dia-a-dia de uma
indústria, protegendo os trabalhadores das partículas ou gases, ou ainda,
atuando conjuntamente. "Dependendo dos agentes químicos ou biológicos
presentes no ar, um respirador semifacial pode não ser suficiente, pois os
olhos são muito sensíveis a estes produtos, além de serem pontos de penetração
de bactérias. Para estes casos, pode ser adotado uma máscara facial inteira,
com adição, inclusive, com um visor para proteção dos olhos", alerta
Munhoz.
De acordo com José Antônio Puppio, diretor da Air Safety, alguns tipos de
respiradores são abastecidos com linha de ar comprimido, o que oferece proteção
extra ao usuário, que pode respirar o ar proveniente de uma fonte abastecedora
à distância. "Os melhores respiradores, principalmente para uso em combate
a incêndios ou em grandes vazamentos de gases, são as máscaras autônomas de ar
comprimido. O cilindro, que é colocado nas costas do usuário, contém o ar
comprimido a sua autonomia pode chegar a uma hora de duração, fornecendo ar
respirável com pressão positiva", informa.
Atualmente, as máscaras contra gases são produzidas com uma variedade de materiais,
como o silicone, e de diversos tamanhos e formas. As máscaras de uso militar
mais modernas são equipadas com tubos de sucção por onde os soldados podem
ingerir líquidos e permitem a adaptação de lentes corretivas. "Os novos
respiradores de defesa química também são dotados de menbranas de comunicação,
acessórios para equipamentos de comunicação, acessórios para equipamentos de
radiocomunicação e protetores de borracha para a cabeça. No entanto, mesmo com
os avanços da moderna tecnologia, as máscaras contra gases continuarão a ser
aperfeiçoadas para defesa contra efeitos químicos, biológicos e
nucleares", observa Puppio.
Muitas empresas multinacionais operam ativamente para alavancar a evolução dos
EPIs no Brasil. "Hoje, nosso know-how tecnológico em termos de EPIs para
proteção respiratória é global", ressalta Osny Ferreira de Camargo,
gerente técnico de soluções para saúde ocupalional 3M. Ele informa que a
empresa começou a atuar nessa área por volta de 1950, com uma máscara simples,
fabricada com um não tecido e provida de dois elásticos, que possibilitava a
colocação sob a face e permitia que o usuário respirasse um ar purificado.
"Era um equipamento rudimentar e descartável que funcionava em ambientes
com poeiras grosseiras em suspensão. Porém, ele se tornou um conceito
revolucionário na época", garante ele.
Conforme Osny, a evolução de uma fase para outra dentro do histórico das
máscaras levou cerca de 20 anos e contou com três momentos importantes: o
surgimento da máscara sem manutenção, conhecidas também como descartáveis; a
incorporação de filtros às máscaras; e a criação das válvulas de exalação, o
que acrescentou um detalhe especial nas máscaras respiratórias, uma vez que ela
deve apresentar eficiência quanto à retenção de contaminantes e, por outro
lado, deixar o ar sair, respeitando as suas fases do processo respiratório, que
são constituídas pela inalação e exalação.
Além disso, segundo o gerente da 3M, uma outra evolução que ocorreu no âmbito
da máscara sem manutenção foi o surgimento do respirador dobrável. "A
estrutura da máscara dobrável permite que o operário dobre-a e a guarde no
bolso quando sai do local de trabalho. É um conceito mais prático, que, porém,
pode apresentar alguns riscos caso o operário esqueça de colocá-la novamente ao
voltar ao posto de trabalho", alerta ele.
Os filtros foram os grandes personagens na história da evolução da proteção
respiratória. A melhoria do conceito permitiu que a estrutura da máscara se
aperfeiçoasse, possibilitando que fossem acoplados filtros que melhoraram sua
performance. "Surgiram os filtros de microfibra de polipropileno com alto
poder de filtração. Depois vieram os filtros de carvão ativado que são
utilizados dentro desta mesma estrutura e filtram gases e vapores. Outro advento
importante foi o da eletrostática que, além de aumentar o poder de filtração
dos filtros mecânicos, auxilia na captura de partículas tóxicas e as retém na
manta filtrante. Além disso, existem os filtros recambiáveis, que possibilitam
que o operário utilize a mesma peça facial e faça somente as trocas dos filtros
de acordo com o ambiente em que vai trabalhar. A 3M comercializa este tipo de
filtro há aproximadamente 12 anos", explica João Corder, do setor de
serviço técnico da 3M.
Osny, também da 3M, destaca que todas essas transformações traduziram-se em
conforto e amenizaram os sintomas de stress e cansaço que o ambiente de
trabalho proporciona ao trabalhador. "Muitas vezes, o operário incorpora
as características ambientais do local de trabalho e o uso de EPIs pode
amenizar esses impactos. Existem tipos de atividades em ambientes mais
agressivos que o operário precisa fazer até três trocas de máscara, tamanha é a
incidência de partículas no local. Por isso, os estudos visando não só a
melhoria dos EPIs, mas também das condições do ambiente de trabalho nas
empresas são imprescindíveis para a evolução do mercado", avalia ele. E
acrescenta que a necessidade do cliente também contribuiu para que o fabricante
busque tecnologias que atendam as suas expectativas.
Além disso, a eficiência do respirador ressalta-se ainda mais quando ele é
utilizado corretamente. Para Corder, da 3M, a postura do usuário também está
evoluindo em consonância com os equipamentos. Um fator considerável tem sido a
aplicação de treinamentos em usuários de respiradores. "Muitas inovações
são oriundas das requisições feitas pelo trabalhador. Hoje ele é muito exigente
e interage com as informações, o que requer maneiras mais dinâmicas de supri-lo
no dia-a-dia. Neste contexto, o treinamento tem sido um excelente canal de
comunicação, não só por ensiná-lo a utilizar o EPI adequadamente, mas, também,
porque o coloca em contato com todas essas informações que adquirimos ao longo
do nosso trabalho", ressalta ele.
Para Munhoz, da Air Safety, o fabricante de equipamentos para proteção
respiratória tem o dever de procurar desenvolver sempre o melhor equipamento
para o usuário. "Por isso, toda empresa deve ter um departamento para
desenvolvimento e pesquisa que atue tanto no mercado nacional quanto no internacional
para se manter atualizado e em sintonia com as tendências do mercado. Além
disso, fazer parte de entidades ligadas ao setor é imprescindível. A Air
Safety, por exemplo, é mantenedora da ISRP - Sociedade Internacional de
Proteção Respiratória no Brasil e seus engenheiros estão sempre reciclando e
aprimorando seus conhecimentos", salienta.
Ainda segundo o representante da Air Safety, o desenvolvimento de equipamento
de proteção respiratória é algo dinâmico que não vai parar nunca. "Sempre
estaremos buscando materiais melhores em mais eficientes. Ainda não temos
condições de avaliar comos erá a proteção respiratória no futuro, mas,
certamente, será melhor e mais adequada que a que existe hoje",
Cristiano S.Pires - Técnico em segurança do trabalho